quinta-feira, 27 de junho de 2013

JOÃO E MARIA



          Maria era João
João era Maria
João assim vivia
A vida de Maria.

Maria forte e violenta
João sensível e carinhoso
Maria ríspida e corpulenta
João tísico e voluptuoso.

João prometeu-se
na primeira oportunidade
pra uma moça pobre
que colhia trigo nos campos.
Maria viu tratar-se
da moça que a noite
se vendia por queijo.

Demoveu-lhe de sua ilusão.
Desde então passara a ser frio.
Maria culpou-se e pra ajudar o irmão
lhe trouxe as vadias
que tão bem conhecia.

Tiveram então uma noite
que esgotara a vida de João.
Pediu pra Maria assim:
“Vive por mim, vive por mim
tem minha gratidão.”

Maria enterrou-o no jazigo
perto das flores de acácia
e viu-se terrivelmente só
como nunca estivera até então.
“O que vai ser de mim” pensou Maria
sem meu querido João?

Tateou algo na casa
que não tinha o jeito de João:
os vasos de flores secas,
as pedras coloridas dentro dos copos
vazios... Vazia era Maria
como tudo no mundo masculino
seus trajes, seu fumo, seu corpo
transparecia a figura doce
do seu morto e delicado irmão.

Maria queria pegá-lo do céu
tirá-lo lá daquele paraíso
por puro egoísmo
e medo de tudo que sentia

Procurou no mundo uma magia
nas trevas algum caminho
e por entre pedras e espinhos
foi perdendo sua veia masculina.

Penteava os cabelos, batom nos lábios
enquanto caminhava procurava
imprimir um novo passo
diferente daquele que andava

Foi quando percebeu ter um corpo seu
e os prazeres dos quais lhe resultava
não requeriam nada mais do que especulava
durante seus devaneios de emoção

E seu coração encheu-se de luz e pensou:
Como então meu irmão me amou!
Deu-me sua vida para que eu descobrisse
A beleza que antes de mim existisse

Foi-se embora como figura celestial
Expurgado daqui pelo mal
Do bem maior que nunca fizera
Flagelar-se por esta matéria!

Uma luz envolveu-a e não estava mais só.
Desapareceu na luz do décimo quinto
Aniversário de morte de João.


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quarta-feira, 26 de junho de 2013

DIGESCTIVO



Tanto tempo 
de ausência 
que tua presença
me é estranha;
entranha
nas tripas
da trama
o que extirpa
da alma
desabrigada,
Lívida embrulha
a bulha
no meu estômago,
é o medo
devorando
em segredo
o que era teu...



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terça-feira, 25 de junho de 2013

POEMA DE PROTESTO




Não vamos lutar por que o País cresceu
e mais pessoas ingressaram na classe média
sentido necessidade de Serviços Públicos melhores.

Lutaremos por que sempre lutamos por isso
é só agora ganhamos vozes
que somam nossos clamores

Lutaremos por que independente do poder aquisitivo
Entendemos que o Direito foi sempre nosso

Poucos se banham em dinheiro
À custa da seca no nordeste

Muitos ainda passam fome
Empanturrando políticos de votos!

Vamos pra rua sim lutar por nossas particularidades
Porque tudo isso um inicio comum:

Corrupção!


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segunda-feira, 24 de junho de 2013

LABORATÓRIO



A realidade é um laboratório, o homem é o animal, nele são realizados os mais variados tipos de experimentos, injetam-se sentimentos, separa-se o córtex racional, submetem-no as mais diversas e extremas formas de agonias, deglutem-no o corpo, influem na sua percepção, confundem-no num labirinto sem fim e sem volta, fazem-no dar voltas e voltas num globo de exercícios, lobotomizam seu coração, cravejam dardos em suas pálpebras, brincam com o âmago da juventude, arrancam a pele da mão à palmatória, ensejam esperanças sem sentido, deixam-no a frente de uma janela e obrigam-no a vislumbrar o infinito a fim de rir das vãs tentativas de alcançá-lo tudo no fim para provar ao rato-humano que tudo é desumano, que se está na mão do determinado, não há juízo e juízes, só há o fim, o finito é o cientista encarregado das cobaias e o que se espera alcançar com isso? Haverá desague pro caráter do infinitivo, haverá a quem entregar o relatório? Da gaiola não podemos ver, porém, há quem diga que temos um gosto bom, o cultuar do determinado nos confere um sabor sem igual e de primata pra primata, sem querer te levar ao desespero, espero que não grites pra não acordar o caos que nos vigia e denunciar a dúvida que nos acorda, há uma grande panela, me contou o ultimo dos ratos-homem que foi e voltara por estar duro pela desesperança e amargo pela descrença, nela somos servidos em uma tigela, acompanhados por estrelas e quantitativos singulares dos mistérios que nos cerca pra além das paredes desse laboratório sem escapatória, sem passagens secretas, sem corrimão nem escada, somente uma caixa fechada, um punho batendo numa porta sem fechadura nem trinco demasiado pesada pra que suportemos seu peso e arrastemos a fim de ter a mais ínfima das brechas pro rato em nós se espremer e quem sabe fugir pro lugar em que não se precise de matéria, tudo volátil, sem variações de temperamento, sem esse amargar, esse escarnecer, sem os meandros da nossa própria situação de lastimáveis, livre destas agulhas e eletrodos que nos torturam sem fim nem causa, um mundo livre em que possamos nos olhar frente a frente, olho nos olhos, sem medo de assombrarmo-nos, somente a fome de devorar o novo frente ao próprio caráter que nos define, definirmo-nos nós mesmos e provar dessa matéria que nos é negada, ser ilícito e viver a base de luz e não nas sombras dessas lâmpadas que não aquecem provando na pele os raios de sol, crescer e suar, quem sabe não voaremos? Quem sabe todo o laboratório fique pra trás, uma lembrança ruim destes dias terríveis, quem sabe não descubramos, sob o prisma da felicidade e da sabedoria, que não somos nem ratos, primatas ou homens, quem sabe descubramos o que há de humano em nós, e perdido em tantas possibilidades, tanta liberdade, não possa partícula eu, enfim compartilhar contigo tua presença, que me distrai dessa horrível forma que me toma, me desilude da desilusão, desoprime o que há em mim opresso, deixa leve a carga que me esmaga, carrega de uma palpitação meu peito, obstante esta que é obtusa outra que é boa e me dá asas pra escrever no céu azul teu nome em palavras brilhantes, teu nome em quatro letras, teu nome na lua na qual te batizaram, da qual nasceste para dar brilho e voz retribuindo assim, conferindo mutualidade na nossa relação embora não creia na minha própria redenção, por teres me aberto nessa hora caótica ao passo que te encho com minhas tolices de rato, tagarelando a realidade que ignoras e eu sem saber condeno, o fato ignorado em ti conserva a alma que já perdi e tu, com as unhas e dentes de primata mantém longe das problemáticas, intacta qual um diamante de ouro, o que na verdade é a única verdade existente além e pra dentro, a única margem pro mundo do outro lado da janela que por enquanto é um sonho que não perdeste de vista, que almejas sem causa, desespero e tranquilamente como se não pudéssemos ser servidos na próxima sopa, mastigados quando com assombro o determinado, que tem mais paciência que nós, sentir roncar sua fome por nossas almas, reféns eternos dessa incerteza plural e indiscriminada que me rebenta mas tu, rata de laboratório, trata com a calma do dia seguido, com a força do dia certo que predetermina o nosso próprio diálogo, cujo sentido a muito se perdeu de vista, da constatação ao contentamento, a distancia breve de um beijo ácido nunca realizado; vem a mão pro próximo experimento, me oferecerei pra não te submeter a minha própria experimentação tergiversa e doentia, a fim de te poupar de novo da minha companhia cheia de desencontros e perdida no fato inaceitável.

Dedicado a J. C. A. A.



Outras fontes:
http://www.recantodasletras.com.br/contossurreais/4355966


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